No
filme Os incompreendidos, de 1959, do cineasta francês François Truffaut, o
jovem protagonista, Antoine Doinel, depois de ser pego admirando uma pin-up em
sala de aula, é castigado e tem seu recreio proibido. Para o professor, “o recreio
não é obrigatório. É uma recompensa”.
Para
alguns alunos da escola Algacir Munhoz Mader, no Bairro Alto, em especial os
menores - primeiro e segundo anos do ensino fundamental -, a permanência na
sala de aula seria o grande prêmio pelo bom comportamento nas aulas. Misturado
com grandalhões do terceiro e quarto ano, eles não tem chance quando soa o
gongo para os 15 minutos de desordem inspecionada.
“Briga,
Briga, Briga”, sai aos berros uma aluna do quarto ano. No canto da quadra de
esportes cerca de 20 pessoas formam uma roda para testemunhar o massacre da
criança pelo jovem. Perdida, a criança
está acuada. Quer sair, mas o esquadrão anticrianças não permite. Ela só é
salva quando o professor de história, Benjamim Maia, 50, interrompe a conversa
com um inspetor e se dirige até a confusão. Quando notam que são percebidos
eles se dispersam. Nenhum aluno foi levado à secretaria pela confusão.
Maia,
um dos poucos professores da escola que interage com os alunos no recreio,
conta que dificilmente eles partem para a briga. “É muito mais pra chamar
atenção do que brigar de fato. Mas no mínimo sinal de confusão, já intervimos”.
Para
ele, a suspensão do recreio pelo professor é algo que não é aconselhado nos
dias de hoje. “O recreio é um espaço de interação entre os alunos de outras
séries e um descanso mental para o professor”. Cada um do seu lado, professor e
aluno, o recreio continua.
Distante
20 quilômetros da escola do Bairro Alto, o Colégio Estadual Eurides Brandão, no
CIC, tentou mudar o jeito como conhecemos o recreio. Sai os esbarrões,
correrias e espontaneidade. Entra no seu lugar o termo pedagógico “recreio
dirigido”.
No
começo desse ano, o corpo docente levou ao conhecimento dos alunos a proposta
de uma atividade mais lúdica durante o intervalo. Instaurada a democracia no
Eurides, o primeiro ato dos alunos foi derrubar o recreio dirigido. A inspetora
Jaqueline Almeida lamentou o fato. Para ela, a proposta de uma atividade
durante o recreio seria a melhor saída para a ociosidade dos alunos. “Hoje em
dia eles ficam muito no celular. Os alunos ficam 3 aulas sentados e no recreio
voltam a ficar sentados, preguiçosos nos bancos do pátio”.
A aluna da oitava série, Alexia Lais Cota, 16, não
concorda com a inspetora. “Ficamos quase 3horas na sala de aula. No recreio
queremos conversar, paquerar, ficar livres. Não quero um professor me dizendo o
que fazer nesse tempo”.
À
tarde, no Colégio Eurides Brandão, ficam dois inspetores se revezando no
cuidado de duzentas crianças entre 6 e 10 anos. No fumodromo, que fica, claro,
na parte de trás do colégio, onde só é possível entrar por um buraco feito
pelos próprios alunos na grade, as bitucas de cigarro dos alunos do período da
manhã se misturam com pacotes de salgadinho dos alunos da tarde.
No
celular, o menino mostra o novo jogo que baixou para os amigos de olhos
brilhantes. O uniforme não é unanimidade no colégio. Calças pretas e camisas
cinzas esquentam no verão. Eles querem algo mais descolado. “No verão podia ser
liberado vir de calção”, diz timidamente um aluno.
Jaqueline,
inspetora há 10 anos, interrompe a conversa e vai socorrer um aluno. Ele chora
por ter perdido seu amigo eletrônico. “O recreio não é mais para jogar bafo ou
pular elástico como na minha época”, sorri cabisbaixa indo a procura do celular
do aluno. “É por isso que o recreio dirigido seria uma boa opção”. Se depender
dos alunos, o direito ao ócio será sempre lembrado.
Esse foi um trabalho para a disciplina de redação VI.
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