Um
assunto de foro íntimo que foi invadido pela sociedade italiana é posto de
volta em seu devido lugar no novo longa “A bela que Dorme”, de Marco
Bellocchio. Assim como em outros filmes do diretor, a temática se confunde
entre religião, política e o poder instituído. Diferentemente do seu
antecessor, Vincere (2009), em que o personagem é exposto
de modo franco, no caso o fascista Benito Mussolini. Aqui, o diretor explora o
oculto, por isso o retorno do assunto ao íntimo, para contar a história real de
Eluana Englaro, em coma há 17 anos, vítima de um acidente de carro, cujo pai
entra na justiça para desligar os aparelhos que mantém viva sua filha.
Não por acaso o filme começa com a viciada Rossa dormindo na
igreja, e termina com a mesma mulher dormindo no leito do hospital. Porém,
antes de tudo isso, o diretor nos mostra várias histórias que se cruzam que há
todo momento nos fazem lembrar do destino de Eluana. Um casal de jovens de lado
opostos na passeata sobre o destino da jovem em coma que se apaixonam. Um
senador que se vê obrigado a votar contra os seus princípios éticos no
parlamento. Uma mãe que abdica da carreira de atriz para cuidar da filha também
em coma. E um médico que não desiste de uma viciada em drogas mesmo depois dela
tentar inúmeras vezes o suicídio.
Talvez possamos rotular o filme de Bellocchio em algo parecido
como biografia documental, uma vez que ele parte de uma história real. Ou
talvez não. O que o diretor italiano faz, na verdade, é poesia. Com
enquadramentos perfeitos, como a última cena de Maria, filha do senador. Ou com
a Mise-en-scène, como o
delicado assunto é abordado.
Biografia
documental talvez quem faça é Kathryn Bigelow, com a sua “A Hora Mais Escura”,
onde imagens brutas são jogadas na cara do espectador. Bellocchio não. Como diz
o jargão popular: “ele tira leite de pedra”.