terça-feira, 6 de agosto de 2013

Calem-se todos


Um assunto de foro íntimo que foi invadido pela sociedade italiana é posto de volta em seu devido lugar no novo longa “A bela que Dorme”, de Marco Bellocchio. Assim como em outros filmes do diretor, a temática se confunde entre religião, política e o poder instituído. Diferentemente do seu antecessor, Vincere (2009), em que o personagem é exposto de modo franco, no caso o fascista Benito Mussolini. Aqui, o diretor explora o oculto, por isso o retorno do assunto ao íntimo, para contar a história real de Eluana Englaro, em coma há 17 anos, vítima de um acidente de carro, cujo pai entra na justiça para desligar os aparelhos que mantém viva sua filha.
Não por acaso o filme começa com a viciada Rossa dormindo na igreja, e termina com a mesma mulher dormindo no leito do hospital. Porém, antes de tudo isso, o diretor nos mostra várias histórias que se cruzam que há todo momento nos fazem lembrar do destino de Eluana. Um casal de jovens de lado opostos na passeata sobre o destino da jovem em coma que se apaixonam. Um senador que se vê obrigado a votar contra os seus princípios éticos no parlamento. Uma mãe que abdica da carreira de atriz para cuidar da filha também em coma. E um médico que não desiste de uma viciada em drogas mesmo depois dela tentar inúmeras vezes o suicídio.
Talvez possamos rotular o filme de Bellocchio em algo parecido como biografia documental, uma vez que ele parte de uma história real. Ou talvez não. O que o diretor italiano faz, na verdade, é poesia. Com enquadramentos perfeitos, como a última cena de Maria, filha do senador. Ou com a Mise-en-scène, como o delicado assunto é abordado.

Biografia documental talvez quem faça é Kathryn Bigelow, com a sua “A Hora Mais Escura”, onde imagens brutas são jogadas na cara do espectador. Bellocchio não. Como diz o jargão popular: “ele tira leite de pedra”.

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